Sobre o site

       O sítio “Historiografia, Território e Patrimônio”, criado na Universidade Federal de Ouro Preto em 2013, é uma página de comunicação digital de trabalhos historiográficos, publicações e eventos acadêmicos relacionados às temáticas inseridas nesta articulação fundamental. Notadamente, reúne diversos estudos que se enquadram, sobretudo, em uma espacialidade mineira (ou de Minas Gerais), desde épocas mais recuadas (período colonial) até as mais contemporâneas. A constituição deste arquivo de pesquisas, sendo apresentadas por meio eletrônico no mesmo sítio, visa divulgar as investigações historiográficas e etnográficas realizadas no âmbito das universidades para, assim, alcançar uma visibilidade pública. Trata-se de estimular a comunicação entre os pesquisadores (em formação ou especialistas) e, principalmente, os usuários (moradores e agentes públicos) dos espaços urbanos patrimonializados ou dos, comumente designados, lugares históricos.

Nesse sentido, o grupo de pesquisa busca problematizar as abordagens historiográficas relacionadas à espacialidade de Minas Gerais, que se instituiu nos traçados político-administrativos amplos (capitania, província, estado federativo) ou por uma concepção regional, que se conjuga à visão nacional. Mas, a perspectiva de memória do espaço não resulta de uma simples necessidade operatória de pesquisa. Sobretudo, ela tem papel metodológico fundamental, pois convém aos problemas historiográficos ligados aos pressupostos – políticos, intelectuais, sociais e econômicos - da configuração territorial e cultural de Minas. Um molde cultural mineiro surge, por exemplo, quando os intelectuais e políticos, tornando-se porta-vozes das identidades coletivas, concebem o patrimônio cultural (metonímia da pátria) e investem nos signos civilizacionais do lugar.

       No que se refere ao campo específico da historiografia, desde a década de 1990 os pesquisadores em história têm considerado a necessidade de confrontar as temáticas da história de Minas Gerais com o quadro dinâmico da sua historiografia, o que pode ser observado pela expansão da produção acadêmica oriunda das universidades, com base em diversos recortes temáticos e perspectivas teórico-metodológicas. Abriu-se uma vertente de estudos sobre o conjunto dos textos dos historiadores – seu alinhamento temático, historiográfico, teórico-metodológico. Contudo, esses estudos panorâmicos, embora relevantes, não pretenderam desvendar aspectos importantes, como os laços sociais, políticos e intelectuais da autoria, o que compõe as margens de instituição dos textos – seu contexto -, e possibilita a compreensão ampla das estratégias e das perspectivas adotadas por agentes que figuram no trabalho historiográfico.

Somado a isso, propõe-se também, para além da análise historiográfica, refletirmos sobre usos da memória, narrativas identitárias, construção da cidadania e papéis da cidade como lugar simbólico e político, associados às concepções, representações e significados do patrimônio cultural. As interações culturais que envolvem, principalmente, a religiosidade e os ritos, constituem importante objeto de pesquisa, e estão em constante diálogo com as práticas culturais contemporâneas dos espaços patrimonializados. Sendo assim, a produção e a divulgação dos trabalhos citados pelos pesquisadores, busca, também, estabelecer uma comunicação mais direta com os membros das comunidades pertencentes a esses espaços. Muitas vezes relegada a academia, a discussão sobre território e patrimônio por vezes atravessa as relações cotidianas das comunidades localizadas em lugares históricos. É papel também dos estudiosos analisar e buscar divulgar essas possíveis demandas. Reconfigurados e ressignificados cotidianamente em sua vivência, esses museus à céu aberto não se limitam à sua função de "lugares de memória".

       Expande-se, portanto, a possibilidade de reflexão e estudos sobre o universo simbólico dos sujeitos, grupos e sociedades em diferentes recortes espaço-temporais, como, por exemplo, a partir de concepções, sistemas de crenças, apropriações culturais, práticas rituais e instituições compartilhadas. As representações e as práticas em torno da morte, das festividades, do associativismo leigo (irmandades, arquiconfrarias e ordens terceiras) e da constituição de capelas têm chamado a atenção de pesquisadores, por meio da interação – que se faz necessária – de abordagens sociais, culturais, religiosas, políticas e econômicas. Tais temáticas são privilegiadas, ainda, quando tomamos como referência o tripé analítico estabelecido aqui na associação entre historiografia mineira, território e patrimônio. Em vista disso, observa-se que esses eixos temáticos, relacionados a Minas Gerais, sob a ótica de seus historiadores e das fontes documentais, permitem-nos conferir os desafios conceituais e metodológicos e propor abordagens que articulam cultura historiográfica, dinâmicas espaciais e patrimônio cultural (material e imaterial).