Cadernos do Per Vias ISSN 2965-3959
Apresentação aos Cadernos do Per Vias
A presente publicação celebra um projeto já antigo. Há uma década, um grupo de historiadores, sob a coordenação do professor Francisco Andrade, iniciava um primeiro sítio eletrônico responsável por divulgar pesquisas acadêmicas em curso no Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto. Em seu alvorecer, o projeto era movido pelos problemas de pesquisa voltados à compreensão de uma chamada historiografia mineira, corroborando, de forma crítica, as contribuições de grandes nomes (intelectuais porta-vozes das identidades coletivas regionais e nacionais), como, por exemplo, Joaquim Felício dos Santos, Diogo de Vasconcelos, Augusto de Lima Júnior e Cônego Raimundo Trindade. A primeira publicação do Cadernos do Per Vias reúne, de forma sistematizada, esses primeiros artigos que inauguraram os trabalhos realizados, buscando, de maneira inovadora, a divulgação das pesquisas em formato digital e para além do ambiente exclusivamente acadêmico.
Depois de um breve hiato, em 2020 a página foi retomada e reestruturada para se tornar uma experiência de comunicação digital que agrupasse trabalhos historiográficos e notícias nos mais diversos formatos, em publicações que convergissem na articulação temática fundamental elencada: historiografia mineira, territorialidades e patrimônio cultural. Ao vincular os três eixos universitários – ensino, pesquisa e extensão – a iniciativa visou alcançar visibilidade pública. Desse modo, ao longo dos anos, alguns meios foram pensados para tornar os resultados de pesquisas mais acessíveis, explorando também outras possibilidades de recursos digitais e mídias eletrônicas à disposição do historiador na atualidade. Espaços múltiplos que precisam ser ocupados por profissionais comprometidos com a produção do conhecimento científico.
Diante disso, o projeto, que tinha como ponto de partida as cidades de Mariana e Ouro Preto, em Minas Gerais, estimula uma comunicação virtual direta entre pesquisadores (sobretudo discentes de graduação e pós-graduação) e usuários (professores, alunos, moradores, agentes públicos e interessados em geral) dos espaços urbanos patrimonializados do território mineiro. Estes lugares históricos, que agregam os interesses de pesquisas historiográficas e do turismo, não seriam, portanto, apenas um pano de fundo, mas objetos de problematizações diversas, voltadas, por exemplo, para questionamentos em torno da (re)construção de espaços sociais, memórias coletivas e narrativas identitárias. Dentre os principais usuários estariam os membros pertencentes a comunidades locais desses espaços de grande potencial histórico e turístico. Discussões sobre o território e o patrimônio conectam os pesquisadores às relações cotidianas e às vivências das comunidades, sendo também um papel fundamental o de analisar e divulgar possíveis demandas políticas, sociais e culturais.
E foi por isso que as atividades do portal – inicialmente denominado Historiografia, Território e Patrimônio – foram sendo reconfiguradas para contemplar o tripé acadêmico do ensino, da pesquisa e da extensão. Já sob novo título, o Per vias et locos (Por caminhos e lugares) foi traçando seu percurso, seja no sentido de (re)conhecer e publicizar importantes espaços culturais, como arquivos e museus (com apresentações dos acervos e entrevistas com seus principais agentes), ou de promover a educação patrimonial a partir da elaboração de materiais didáticos acessíveis a formadores e educandos (planos de aula, relatos de experiência ou roteiro de visitações técnicas).
Ainda que trate de épocas mais recuadas, os questionamentos e as reflexões propostas pelo projeto são as contemporâneas. Indo ao encontro desse importante ofício do historiador, sempre diante de passados presentes, suas atividades também refletiram o contexto vivido, marcado pela pandemia de COVID-19, que, para além de todos os danos imensuráveis, trouxe a necessidade de ressignificação e reelaboração de nossas funções. Em meio à demanda pelo isolamento, os objetivos permaneceram vivos no distanciamento social e no trabalho remoto, levando a outras séries importantes colocadas em prática, como as Lives no Instagram e os cursos extensionistas (como o Religiosidades, patrimônio cultural e sociabilidades urbanas: novas abordagens sobre as associações leigas em Minas Gerais, séculos XVIII-XIX; ministrado em novembro de 2021 e disponível no Youtube).
Por fim, quanto a este último exemplo citado, em especial, ressalta-se que o grupo de estudos e pesquisas tem se consolidado na temática do associativismo leigo (como evidenciado no segundo volume do Cadernos do Per Vias). Muito além de um viés institucional, estipula-se como recorte a espacialidade mineira, as sociabilidades urbanas e as dinâmicas escravistas nos séculos XVIII e XIX. Por meio de abordagens que articulam os âmbitos sociais, políticos, culturais e econômicos, a temática – clássica e atualmente revisitada com criticidade –, atravessa as experiências dos lugares históricos, materializadas em suas representações, práticas religiosas e capelas (pelos bens patrimoniais que salvaguardam e ressignificam em seu cotidiano na vivência das cidades).
Este é, portanto, um convite à instigante leitura, que também deve ser recebida como relevante estímulo a outras iniciativas extensionistas.